quarta-feira, 22 de maio de 2013

Minhas lembranças

Lembro quando ficava muito tempo sem chuvas, minha mãe juntava com as vizinhas e iam todos aguar as cruzes.  Andávamos longe, levando vasilhas com água, alguns colocavam pedras na cabeça em sinal de penitência.Todos iam cantando músicas religiosas até chegar á um lugar chamado Três Porteiras.
Lá havia uma Cruz onde um  senhor que se chamava Melico  morreu á muitos anos.Despejávamos toda água das vasilhas na cruz e voltávamos para casa cantando.
Antes que entrassemos para dentro de casa começava a chover e todos ficavam felizes e louvavam á Deus.
Outra coisa que me lembro é quando vinha temporal, minha mãe Mandava que fechasse as portas e janelas, cobrisse o espelho, a máquina de costura e todos ficassem quietos.Ela ia no fogão á lenha, pegava brasas e colocava numa vasilha com ramos bentos.  Superstição ou não, por incrível que pareça logo a chuva abrandava; nos meus pensamentos ainda consigo sentir o cheiro da erva-cidreira e do alecrim queimando
e deixava a casa toda com aquele cheiro tão bom, e minha mãe falando:Hora de chuva é hora sagrada,
Precisa ter respeito, ficar quieto. Agora tudo isso ficou no passado, ninguém mais faz isso, se a gente fizer, vão rir da gente.
Mas como foi bom, aquele tempo; a gente dava boas risadas...Agora no meu pensamento me lembrei de um dia que fomos aguar as cruzes Cantando, e nessa época fazia sucesso uma música mais ou menos assim:
Os anjos, estão voltando,vem pra dizer que ele está chegando; essa música, não me lembro agora quem cantava, só sei que não era música da igreja. E as pessoas mais velhas não gostavam da jovem guarda.
Ai uma das senhoras começou a cantar: Os anjos, todos os anjos...que era uma música da igreja católica,
as moças que estavam em procissão cantaram assim: os anjos, estão voltando... a senhora que estava puxando a música falou: Esse Roberto Carlos está acabando com mundo o pior é que nem era do Roberto, a música.Custamos segurar a gargalhada até chegar em casa...   (Eni vasconcelos)

Colorindo... 22-05-2013

Hoje vou colorir tudo que está preto e branco dentro de mim.
Vou tentar por onde passar botar mais cor, mais luz.
Deus vive e viverá sempre, tudo o mais passará.Deus não passará jamais. Ele é aquele que é,que sempre foi
e que sempre será... Eternamente. Quando a tristeza do fim da tarde vier,Deus estará comigo.
Ele nunca me deixará...

sexta-feira, 10 de maio de 2013


Manuel Bandeira

Noite morta


Noite morta.
Junto ao poste de iluminação
Os sapos engolem mosquitos.


Ninguém passa na estrada.
Nem um bêbado.


No entanto há seguramente por ela uma procissão de sombras.
Sombras de todos os que passaram.
Os que ainda vivem e os que já morreram.


O córrego chora.
A voz da noite . . .


(Não desta noite, mas de outra maior.)


Petrópolis, 1921

O Menino Doente, Manuel Bandeira

Manuel Bandeira

O menino doente


O menino dorme.


Para que o menino
Durma sossegado,
Sentada ao seu lado
A mãezinha canta:
— "Dodói, vai-te embora!
"Deixa o meu filhinho,
"Dorme . . . dorme . . . meu . . ."


Morta de fadiga,
Ela adormeceu.
Então, no ombro dela,
Um vulto de santa,
Na mesma cantiga,
Na mesma voz dela,
Se debruça e canta:
— "Dorme, meu amor.
"Dorme, meu benzinho . . . "


E o menino dorme.

Manuel Bandeira

Profundamente


Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Vozes cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?


— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.


Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci.


Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.